A tarefa de captar doadores na realidade
brasileira não é algo fácil, simples, estático. Requer técnicas que venham
proporcionar conhecimento, entendimento dos aspectos sociais, econômicos,
culturais e políticos que envolvem e influenciam a doação espontânea, e como
esta poderá ser concebida como uma questão de participação, compromisso e
responsabilidade social.
O Brasil é referência na captação de sangue na
América Latina, com aumento dos índices de doação voluntária com faixa etária
de 16 (com autorização de responsável) a 68 anos, entretanto, apenas 1,9% da
população brasileira é doadora (BRASIL, 2015).
As descobertas científicas no último século
possibilitaram inúmeros avanços na área da saúde. Todavia, quando a transfusão
sanguínea se faz vital, um paciente se torna única e exclusivamente à mercê da
caridade de outras pessoas (VIEIRA, SANTOS, 2016).
Captar é conquistar, compreender, apreender. O
propósito de captar é tornar esse hábito da doação parte dos costumes, da
agenda diária de vida dos brasileiros, e transmitido de geração em geração, tal
como ocorre nos países considerados de “primeiro mundo”.
Doar sangue e órgãos é um ato de solidariedade. O
transplante apresenta-se como importante opção terapêutica, tanto do ponto de
vista médico, quanto social ou econômico. Dentro de aproximadamente seis
décadas, o transplante deixou de ser um procedimento relativamente arriscado,
que era realizado apenas em pacientes com doença crônica em estágio final, para
uma intervenção terapêutica eficaz para cuidados de pacientes com doenças
terminais de órgãos e tecidos (FREIRE. 2013).
De acordo com o Registro Brasileiro de
Transplantes (2017) o número de doadores de órgãos cresceu em 2016, mas a fila
de espera continua grande. Constituindo um processo longo e tortuoso de espera,
a fila em 2017 conta com mais de 33 mil adultos e crianças (BRASIL, 2017).
A lei n° 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, “dispõe
sobre a remoção de órgão, tecidos e partes do corpo humano para fins de
transplante e tratamento e dá outras
providências”. De acordo com a lei, tanto o doador quanto o receptor
devem autorizar o transplante, pessoas juridicamente incapazes precisam de
autorização de responsável. Sangue, esperma e óvulos não são compreendidos por
essa lei. A autorização da doação pode ser revogada a qualquer momento, antes
do início do processo.
A lei n° 10.205, de 21 de março de 2001, no
Capítulo II Dos Princípios e Diretrizes no Art. 14 “A Política Nacional de
Sangue, Componentes e Hemoderivados rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes”
no inciso II estabelece a proibição de remuneração ao doador pela doação de
sangue. Assim, é possível reforçar o caráter humanístico e voluntário de tal
ato.
As principais barreiras para a doação são a
desinformação e o preconceito. Os mitos,
tabus que envolvem o ato da doação provém de um contexto sociocultural que
permeiam a implementação da política da doação no país. Resulta-se de um
período cuja qualificação técnico-científica era iniciante e a implementação de
tal política se estendeu de forma errônea até o momento que esses processos se
configuraram como seguros e confiáveis.
Contudo, a falta de doadores voluntários ainda é um sério problema no
país. (VIEIRA, SANTOS, 2016).
O trabalho educativo na captação de doadores na
realidade brasileira é algo fundamental, mesmo que os frutos sejam colhidos em
médio e longo prazos. Entretanto, precisa ser prioritário, assumido,
desenvolvido sistematicamente, criativamente e cotidianamente, logicamente, sem
descartar a necessidade de articulação imediata para suprir as necessidades de
sangue, órgãos e medula óssea.
A educação em saúde é parte do processo de pensar
o real e criar estratégias de transformação, e precisa ser compartilhada por
todos os profissionais que atuam na área. Necessário se faz planejar e
desenvolver atividades pedagógicas que leve a população a refletir, a ter
conhecimentos, informações que quebrem os medos, dúvidas e inseguranças, e
fortaleçam o desejo consciente de doar, de participar ativamente.
Captar, conquistar, sensibilizar e fidelizar
doadores é transformar sentimentos, visão de mundo, valores – é transformar
pessoas, levando-as a perceber a relevância desse gesto humanitário, que, por
meio da solidariedade, garante a própria sobrevivência. Captar candidatos à
doação vai além da persuasão, da indução ou socialização de ideias e valores,
mas caracteriza-se pela ação crítica e criativa.
A captação é uma motivação interna que transborda
para grupos, pessoas e comunidades, lançando sementes. Captar é uma arte que
busca cativar o verdadeiro artista, o doador, que partilha uma das mais
preciosas fontes da vida.
É fundamental a sincronização das ações de
educação com as campanhas, tecnologias, ferramentas de comunicação, e precisam
acontecer sistematicamente e continuadamente. Tudo isso aliado ao espírito
solidário já característico do povo brasileiro, que atende aos apelos e
situações que demandam ajuda humanitária.
Teoricamente, promover é dar visibilidade,
impulsionar. Sendo assim promover a doação de sangue e órgãos é dar maior evidência,
é acrescentar campos de ações e articulações, produzir um diálogo abrangente e
efetivo com a sociedade (BRASIL, 2015).
Partindo da característica-chave da atividade de
captação de doadores, que é o transformar, inovar, mais um debate inicia-se, no
que se refere à importância da junção de diversos saberes, da inserção de novos
atores no processo da Promoção da Doação Voluntária de Sangue, Órgãos e Medula
Óssea.